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Em uma entrevista exclusiva à DW, a empresária Isabel dos Santos, filha do antigo presidente angolano José Eduardo dos Santos, reagiu ao avanço de seu processo judicial em Angola, formalmente acusada de 12 crimes. Santos classificou as acusações como "inverdades" e "politicamente motivadas", expressando esperança de que a fase de instrução contraditória demonstre a independência da justiça angolana.
O processo, que envolve acusações como peculato, burla qualificada, abuso de poder e associação criminosa relacionadas à sua gestão na Sonangol entre 2016 e 2017, entrou em uma fase decisiva. Embora a instrução contraditória, crucial para decidir se o caso seguirá para julgamento, tenha sido adiada, Isabel dos Santos a vê como uma oportunidade para apresentar provas e testemunhas em sua defesa. Ela criticou a Procuradoria-Geral da República (PGR) por não cumprir prazos e por aceitar apenas sete de suas 73 testemunhas, em contraste com as mais de 40 testemunhas inquiridas pela PGR.
Isabel dos Santos desmembrou as "12 crimes" em quatro acusações principais, que ela veementemente refutou:
Consultoria na Sonangol:
A PGR alega que os trabalhos de consultoria para a recuperação da Sonangol não existiram e que os valores teriam sido desviados por Isabel dos Santos. A empresária contestou, afirmando que "centenas de trabalhadores da Sonangol viram os consultores da Boston Consulting Group, da Price, da McKinsey, da Accenture" e que existem "milhares de e-mails" e relatórios que comprovam a existência dos serviços.
Aumento de Salários na Sonangol:
A segunda acusação refere-se ao aumento dos salários de administradores e diretores. Santos confirmou os aumentos, mas esclareceu que foram decididos de forma
colegial
e aplicados a todo o grupo Sonangol, não apenas aos administradores. Ela também apontou que os salários de 2017, alvo da acusação, eram metade dos salários de 2018, quando o conselho de administração que a sucedeu duplicou os valores.
Empresa Monjasa Trading:
A PGR acusa a Monjasa Trading de ser de propriedade de Isabel dos Santos e de ter feito
trading
com a Sonangol. A empresária negou qualquer ligação com a Monjasa, uma empresa internacional com atuação em mais de 30 países, convidando a todos a verificar a informação publicamente.
Não Pagamento de Impostos da Sonangol:
A quarta acusação é de que a Sonangol não pagou impostos ao Estado durante sua gestão. Santos argumentou que a responsabilidade pelo pagamento dos impostos de 2017 era de seu sucessor, Dr. Carlos Saturnino, que assinou as contas. Além disso, destacou que os relatórios de contas da Sonangol de 2016 e 2017, aprovados por auditores independentes, não apresentavam notas sobre impostos não pagos.
Questionada sobre o "duplo critério" do Estado angolano, que interveio diplomaticamente para acolher a família do ex-presidente gabonês Ali Bongô (também acusado de corrupção), enquanto mantém seu processo, Isabel dos Santos sugeriu uma motivação política ligada às eleições angolanas de 2027. "Estamos em vésperas de eleições", afirmou, "e com certeza, nada do que está a acontecer agora é coincidência."
Ela se considera um "bode expiatório de uma narrativa de combate à corrupção fictício", destacando sua visibilidade internacional como empresária e empreendedora. Para Santos, o verdadeiro combate à corrupção em Angola deveria focar no desenvolvimento econômico, na criação de empregos e na melhoria das condições de vida da população.
Isabel dos Santos lamentou o "impacto financeiro muito grande" dos bloqueios e arrestos em suas empresas, tanto para si quanto para a economia angolana e portuguesa. Ela estima que suas empresas, que antes criavam milhares de empregos anualmente, hoje representam apenas 20% do que foram no passado e perderam mais da metade de seu valor.
Em relação às eleições de 2027, a empresária enfatizou a necessidade de candidatos com um "verdadeiro projeto para o país", focado na resolução da questão econômica, no emprego e no bem-estar social. Ela recordou os tempos de guerra e de paz em Angola, lamentando que o país esteja hoje "mais pobre", com a moeda desvalorizada e o desemprego "gritante".
Apesar das adversidades e de não pisar em solo angolano há oito anos, Isabel dos Santos reafirmou seu amor por Angola e seu compromisso em contribuir para uma "transformação positiva" do país. Assistir a entrevista completa em aqui